Poemas (Douglas Alfini Jr.)

Obra: "Dune" de Marina Shirjaeva.

Apresentamos a seguir três poemas inéditos de Douglas Alfini Jr. O autor, nascido em Santo André, no ABC paulista, deu seus primeiros passos no mundo da escrita ainda por volta dos 10 anos de idade. Tem como principais influências os clássicos do romance e da literatura fantástica, bem como o cinema western. É graduado em história. A obra Crônicas do Invisível (2021) é seu livro de estreia.




O sono do justo


Deitar-se-ia sereno,
mesmo sendo belicoso,
se o seio moreno morasse
em seu leito generoso.


Deitar-se-ia aturdido
se lá não mais estivesse
o seio moreno dormindo
na paz que rogava em prece.


Se Deus lhe tirasse o sonho,
nunca mais deitar-se-ia,
entrega-te a ele a alma
desperta-se a tirania.


Na guerra que toma a rua,
sublime poça de sangue,
deitar-se-ia infame, vazio,
desacreditado.


Deitar-se-ia cansado,
já não mais procuraria
o seio que fora um dia refúgio
compartilhado.

Um rei


Fala das dores do ser
e ri por já não saber
ser o que hoje é.


O louco velho da praça,
o sonho morto de graça,
a vida entregue à cachaça,
um troco por sua fé.


Poemas feitos pro mar
os dedos não podem contar,
enrolado no cobertor,
a sua mortalha de espera.
O rei de uma era que era
tragédia anunciada,
pelos menestréis cantada,
disforme como a Quimera.


Na tenda dos animais
sua sorte é desesperança,
miséria é a escolha mansa,
alheia à tecnologia.


Um Barrabás que sabia
o esplendor de sua liberdade.
Pra sempre um Nero covarde,
sua chama é a nostalgia.


Duna


Capa da obra: "Crônicas do Invisível", escrita por Douglas Alfini Jr.Surge onde não há nada,
move-se em lenta dança.
Tem a seus pés o mar e acima de si um céu que assusta.


Aliada do vento, espalha as cidades,
beleza divina em natureza injusta.
Desconhece leis, ignora os homens,
brinca com as formas e as realidades.


Não permite vida que não seja a sua,
não divide cores na areia crua.
Quando chega a noite, é fria e compassiva, mas durante o dia queima feito brasa.


Alma nordestina, árido Atacama.
Fúria infinita, subsaariana.
Sonhos de poder em ser inconsciente,
filha do criador, é fêmea impaciente.


No quarto planeta mora abaixo dos sóis,
solitária sombra, efígie de Deus.
Em Terra de Santa Cruz repousa em azuis lençóis; no Velho Testamento, abrigo de judeus.


Quando se divide permanece uma,
quando mais pesada ainda assim é pluma,
quando está parada a vida continua,
rainha da alvorada, itinerante duna.


Por Douglas Alfini Jr.


Nota da editoria:

Imagem de capa: “Dune”, da artista russa Marina Shirjaeva.


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