“Imparcialidade é um nome pomposo para indiferença,
que é um nome elegante para ignorância.”
G. K. Chesterton (1874 – 1936)
Pilatos passou à História, indelevelmente marcado pelo ferro em brasa da censura dos Evangelistas, como o tipo característico do homem que não é cruel por medo da crueldade, não é assassino por indolência, e não é feroz por inércia. Escravo da preguiça e do medo, cede a todas as infâmias, submete-se a todas as baixezas, pela força da inércia que é como que a base de sua mentalidade.
E a mesma indolência que o preserva dos acessos coléricos de um Nero, atira-o às traições vis de um Judas, ou às transigências abomináveis de um ser indigno do nome de homem, de uma alma indigna da própria carne que ela vivifica.
Qual foi o crime de Pilatos? Foi o de ter sido fraco. Não foi ele autor de uma condenação categórica, como a de Herodes. Mas sua culpa nem por isso foi menor. Porque o pecado não está somente em não atacar a Jesus. Está também em não O defender. Está também em não ter a coragem de O preservar, de O resguardar contra o ódio das multidões. Está na covardia de não lutar.
Descendo agora ao terreno de nossas consciências, este terreno onde somente dois olhares penetram, o de Deus e o nosso, perguntemo-nos desassombradamente: não seremos nós outros tantos Pilatos?
Confessar, comungar, pedir a Deus inúmeras graças, na sua maioria temporais, dinheiro, saúde, felicidade, e também um pouco de virtude, como uma gorjeta que se faz a Deus, isto tudo não é possuir na sua plenitude o espírito cristão, todo feito de luta e de sacrifício.
Ser cristão não é só ser um crente, é ser também um soldado. É saber descer à arena da luta de opiniões, ostentando com firmeza nossos princípios. É não ter medo de adquirir inimizades, se for necessário. É não ter medo de atrair sobre si antipatias. É, em suma, sacrificar-se.
Por Plinio Corrêa de Oliveira (1908 – 1995).
Legionário número 74, 8 de fevereiro de 1931.
Republicado pela Revista Catolicismo número 868 de abril de 2023.
Notas da editoria:
Imagem da capa: “Pilatos lavando as mãos” (1663), por Mattia Preti (1613 – 1699).