Naquele tempo e agora

Obra: "Battle of Britain" (1941), por Paul Nash (1889 – 1946).

Nesta postagem, recuperamos artigo escrito por Thomas Sowell em agosto de 2006,
o qual explora a Guerra do Líbano de 2006 apenas o suficiente para criticar a forma como conflitos e
cessar-fogos são tratados na época atual, utilizando para isso uma breve comparação com a Segunda Guerra Mundial.



Aqueles de nós velhos o suficiente para lembrarmos da Segunda Guerra Mundial temos dolorosos lembretes de como as coisas mudaram no comportamento americano em tempo de guerra. Naquele tempo, o candidato derrotado na eleição de 1940 — Wendell Wilkie — não somente apoiou a guerra mas tornou-se o enviado pessoal do presidente Roosevelt ao primeiro-ministro Winston Churchill.

Estávamos todos no mesmo barco — e sabíamos disso. Pessoas que tinham sido altamente críticas com respeito à política externa americana antes do ataque a Pearl Harbor, agora calavam-se e se devotavam a vencer a guerra.

O que aconteceria se as pessoas, instituições e atitudes de agora fossem, de alguma forma, transportadas para o tempo da II Guerra Mundial? Qual teria sido o resultado? Teríamos vencido ou perdido aquela guerra?

O que dizer da grande comoção atual, um cessar-fogo?

Acontece que a II Guerra Mundial teve o maior cessar-fogo da História. Ela era chamada de “falsa guerra” porque, apesar da França estar oficialmente em guerra contra a Alemanha, ela lutou muito pouco durante meses, enquanto o grosso do exército alemão estava na Polônia e a França tinha uma superioridade acachapante no front ocidental.

O famoso correspondente William L. Shirer falava de um front ocidental “irreal”, com soldados “em ambos os lados olhando, mas não atirando”. Os soldados alemães se banhavam no Reno e acenavam para os franceses do outro lado, que respondiam aos acenos.

Durante esse período, Hitler se oferecia para uma negociação com a França e a Inglaterra.

Kofi Anan teria adorado essa situação.

Em 19 de novembro de 1939, a reportagem diária de Shirer dizia: “Por quase dois meses não tem havido nenhuma ação militar terrestre, marítima ou aérea”. Em 1º janeiro de 1940, ele escreveu: “esse tipo falso de guerra não pode continuar por muito tempo”. Mas, já havia exatos quatro meses que a guerra tinha começado. Não é isso um imenso cessar-fogo?

Esse cessar-fogo, de fato, levou à paz? Não. Como outros tantos, ele ajudou o agressor.

Ele deu a Hitler tempo para mover suas divisões do front oriental, depois de ter conquistado a Polônia para o front ocidental, e enfrentar a França.

Agora que aquela superioridade ao longo do Reno era do exército alemão, repentinamente passou-se de uma guerra de mentirinha para uma devastadoramente real.

Hitler atacou e a França desabou em seis semanas.

Ao final, em 1945, os exércitos aliados fizeram tanto a Alemanha quanto o Japão se retraírem. O que teria então acontecido se tivéssemos Kofi Anan e essa gelatinosa mentalidade chamada “opinião mundial”?

Kofi Anan teria clamado por um cessar-fogo.

Ele poderia ter dito que a resposta americana à Alemanha era totalmente “desproporcional” porque os alemães nunca tinham desembarcado tropas em solo americano ou bombardeado cidades americanas, e que eles não eram, com certeza, uma ameaça real aos EUA naquele momento.

A maior parte da frota japonesa estava, então, no fundo do oceano e muitos dos seus aviões tinham sido derrubados. Por que não negociar um acordo, a fim de salvar vidas de civis inocentes?

E se tivéssemos dado ouvido a tais conversas?

Sem dúvida a Alemanha e o Japão teriam assinado algum tipo de acordo a fim de se verem livres dos exércitos aliados e terem algum tempo para respirar.

Ambos tinham programas que almejavam a construção de armas nucleares. Um dos últimos atos dos nazistas antes da capitulação foi o envio de material para o Japão, por submarino, para ajudar o programa nuclear daquele país.

Qualquer acordo de paz que tivéssemos negociado com o Japão teria dado tempo aos japoneses para o desenvolvimento não somente da tecnologia nuclear mas também de aviões de guerra, cujos projetos foram conseguidos na Alemanha, país que tinha então os aviões mais avançados do mundo.

Não há a mais mínima dúvida de que o Japão não teria tido a menor hesitação em lançar bombas nucleares em cidades americanas. E eles não teriam voltado, anos mais tarde, para demonstrar pesar pelo que tivessem feito, como muitos americanos fizeram em Hiroshima e Nagasaki.

Mas não cessamos o fogo enquanto nossos inimigos não foram derrotados. Kofi Anan e a atual “opinião mundial” não teriam gostado disso.


Por Thomas Sowell.
Tradução de Antônio Emílio Angheth de Araújo.

Publicado originalmente no website Mídia Sem Máscara,
em 4 de agosto de 2006.


Nota da editoria:

Imagem da capa: “Battle of Britain” (1941), de Paul Nash (1889 – 1946).


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