Substituindo o raciocínio crítico

Mãos representando diversidades

Se você não é um liberal aos 25, você não tem coração; se você não é um conservador aos 35, você não tem cérebro.”,
Winston Churchill (1874 – 1965).



Se algum dia criarem um concurso para aquelas palavras que se passam por pensamento profundo e crítico, “diversidade” e “pluralidade” facilmente iriam para a final e teriam um embate duríssimo.

A beleza destas duas palavras mágicas e encantadoras é que você não necessita de nenhuma nódoa de evidência empírica e nem de nenhum processo de encadeamento lógico para recitar rapsódias sobre os supostos benefícios da diversidade e do pluralismo. A própria ideia de querer testar estes belos termos em relação a algo tão feio quanto a realidade é em si vista como um ato sórdido.

Diversidade e pluralidade são termos que, justamente por englobarem de tudo, dispensam seus promovedores de explicar especificamente o que defendem. Há diversidade e pluralidade de gênero, de cor, de preferências sexuais, de renda, de inteligência, de etnia etc. Sendo assim, perguntar se aquelas instituições que promovem a diversidade 24 horas por dia e sete dias por semanas apresentam melhores resultados do que as instituições que não dão a mínima para estes “pré-requisitos” fará apenas com que você seja visto como um reacionário insensível, malicioso, racista, misógino e homofóbico.

Citar evidências empíricas que mostram que aquelas localidades obcecadas com pluralidade e diversidade geram relações ruins entre as pessoas forçadas a conviver sob o mesmo ambiente é se arriscar a ser rotulado e marginalizado. O livre pensamento e a liberdade de expressão não são livres.

A moda agora ao redor do mundo é afirmar que os governos devem promover a diversidade e a pluralidade — o que na prática significa que alguns grupos organizados têm mais direitos do que outros, o que por sua vez significa a abolição da ideia de “igualdade perante a lei”.

Neste cenário, algumas perguntas se fazem necessárias. Como é possível que um país racialmente homogêneo como o Japão consiga apresentar uma educação de alta qualidade sem ter de recorrer ao essencial ingrediente da diversidade e do pluralismo, uma necessidade “premente” segundo os sociólogos da atualidade?

Inversamente, por que a Índia, uma das mais plurais e diversas nações da terra, apresenta um histórico de intolerância e de violência letal entre seus diversos grupos de pessoas pior do que aquele observado no sul dos EUA durante a vigência da segregação racial?

O simples ato de fazer tais perguntas já é garantia de ser acusado de recorrer a táticas desonestas e de possuir motivações torpes demais para serem dignificadas com uma resposta. Não que os genuínos defensores da pluralidade tenham alguma resposta, é claro.

Dentre os candidatos que disputam a segunda colocação no torneio dos lugares comuns que tornam o pensamento algo obsoleto está o termo “socialmente excluído” e todas as suas variáveis.

Pessoas que não se encaixam nos pré-requisitos básicos exigidos por determinados objetivos e funções, desde admissão em uma universidade a um empréstimo bancário, passando por empregos em cargos que exigem diversas habilidades, são tidas como pessoas socialmente excluídas cuja ascensão social lhes foi “negada pela sociedade”. Donde surgem as desculpas de que tais pessoas estão moralmente eximidas de seguirem uma vida pautada pelas mesmas regras aplicáveis ao restante da população — como, por exemplo, não recorrerem à criminalidade.

Tanto o ‘pluralismo’ quanto a ‘exclusão social’ devem ser corrigidos por políticas públicas, como por exemplo as cotas. Segundo os teóricos, tais políticas equalizariam as “oportunidades de acesso”. O problema é que os defensores dessa tese sempre refugam quando instados a explicar por que uma igual oportunidade de acesso seria sinônimo de igual probabilidade de sucesso.

Há um exemplo interessante disso na própria política. Peguemos um Estado americano conhecido mundialmente: a Califórnia. Trata-se de um Estado majoritariamente progressista. Neste Estado, eleitores conservadores e eleitores progressistas têm exatamente a mesma oportunidade de votar. No entanto, as chances de um candidato conservador ser eleito na Califórnia são muito menores do que as chances de um candidato progressista. Será que os progressistas defenderiam cotas e uma lei de “igual oportunidade de acesso” para políticos conservadores na Califórnia?

Similarmente, todas as pessoas podem tentar adentrar uma universidade, pedir um empréstimo bancário ou disputar um determinado emprego. Se todas essas solicitações forem julgadas pelos mesmos critérios, então todos tiveram uma igual oportunidade de acesso. Se aquele sujeito com pouquíssimas qualificações intelectuais não conseguiu o emprego na multinacional ou o ingresso em uma universidade, ou se um sujeito de histórico creditício duvidoso não conseguiu o empréstimo bancário, isso não significa que lhe foi negada a mesma oportunidade de acesso. Simplesmente nunca houve uma igual probabilidade de sucesso.

A ‘diversidade’ e a ‘exclusão social’ geram um terceiro lugar comum: ‘redistribuição de renda’ — ou, sua variável próxima, ‘justiça social’.

Aparentemente, todas as pessoas têm direito a receber uma “fatia justa” da prosperidade da sociedade, não importa se elas trabalharam 16 horas por dia para ajudar a criar essa prosperidade ou se não fizeram nada mais do que viver na mendicância ou recorrer ao crime. No final, tudo indica que devemos alguma coisa a estas pessoas pelo simples fato de elas nos agraciarem com sua existência. Tudo indica que elas “têm o direito” de viver à custa dos pagadores de impostos, mesmo que sintamos que poderíamos viver muito bem sem elas.

No outro extremo da escala da renda, os ricos supostamente devem pagar sua “fatia justa” em altos impostos. Mas para nenhum dos dois extremos da escala da renda há uma definição concreta do que é uma “fatia justa”. Há um determinado número ou uma proporção exata? Nunca se soube. ‘Justiça social’ e ‘redistribuição de renda’ são apenas sinônimos políticos para “mais poder arbitrário para o governo”, cuidadosamente adornado por uma retórica sonoramente moralista.

A intelligentsia vem há décadas promovendo a ideia de que não deve haver nenhum estigma em se aceitar auxílios do governo.  Viver à custa dos pagadores de impostos é retratado como um “direito”, ou, mais ponderadamente, como parte de um “contrato social”.

É claro que você não se lembra de ter assinado qualquer contrato desse tipo, mas tal lugar comum soa poético e pomposo. Ademais, e isso é o que interessa, ele rende muitos votos entre os ingênuos, e este é exatamente o objetivo de políticos que defendem assistencialismo.

Por fim, “acessível” é outro termo popular que substitui toda e qualquer necessidade de pensamento crítico. Dizer que todo mundo tem direito a “moradia acessível” é bem diferente de dizer que todo e qualquer indivíduo deve poder decidir qual tipo de casa quer ter.

Programas governamentais que distribuem “moradias a preços acessíveis” nada mais são do que programas que dão a algumas pessoas o poder de não apenas decidir qual imóvel elas querem ter como também o de obrigar outras pessoas — os pagadores de impostos, os donos dos imóveis etc. — a absorver uma fatia do custo desta decisão, uma decisão da qual elas nunca foram convidadas a participar.

E, ainda assim, a crença de que pessoas que preferem que as decisões econômicas sejam feitas voluntariamente por indivíduos no mercado não são tão compassivas quanto aquelas pessoas que preferem que tais decisões sejam tomadas coletivamente por políticos nunca é vista como uma crença que deveria ser comprovada por fatos.

Mas, por outro lado, isso não é algo recente. A crença na compaixão superior dos políticos é um fenômeno mundial que data ainda do século XVIII. E, em todas as épocas e em todos os locais, nunca houve nenhum esforço genuíno dos progressistas para verificarem se esta pressuposição crucial é sustentada por fatos.

A realidade econômica, no entanto, é que o governo fazer, por meio de decretos, com que várias coisas sejam mais “acessíveis” de modo algum aumenta a quantidade de riqueza na sociedade. Colocar o governo para redistribuir propriedade e determinar seu “valor justo” não faz com que a sociedade seja mais rica do que seria caso os preços dos imóveis fossem “proibitivos”. Ao contrário: tais políticas, que nada mais são do que controles de preços e redistribuição de propriedade, reduzem os incentivos para se produzir.

Nada do que aqui foi dito é uma ciência obscura e inacessível. Porém, se você é do tipo que jamais se põe a pensar criticamente e se contenta com a mera repetição de lugares comuns, então não importa se você é um gênio ou um deficiente mental. Palavras fáceis que impedem as pessoas de pensar criticamente reduzem até mesmo o mais reconhecido gênio ao nível de um completo idiota.


Thomas Sowell

Escrito por Thomas Sowell.
Publicado originalmente no website do Instituto Ludwig von Mises Brasil, em 27 de setembro de 2015.


Artigos relacionados

4.8 4 votos
Classificação
Inscrever-se
Notifique-me sobre
guest
0 Comentários
 mais antigos
mais recentes  mais votado
Comentários
Visualizar todos os comentários
0
Adoraríamos receber sua crítica. Por favor, escreva-a!!x