Obsessão perigosa

Recorte da obra: "O cobrador de impostos", de Marinus van Reymerswaele (1490–1546).

Uma nação que tenta prosperar a base de impostos é como um homem
com os pés num balde tentando levantar-se puxando a alça.
Winston Churchill (1874 – 1965)



A mídia e as universidades estão continuamente obcecadas com “lacunas” ou “disparidades” de renda. Como um apresentador de programa disse, “não faz sentido” que um executivo ganhe mais de 50 milhões de dólares por ano.

Noventa e nove por cento de todas as coisas que acontecem no mundo “não fazem sentido” para muita gente. Você consegue entender como o sistema de transmissão de um automóvel funciona? Você consegue consertá-lo se ele estragar?

Você entende como a aspirina tira a dor de cabeça? Como se faz o iogurte?

Há alguns anos, um famoso ensaio chamava nossa atenção para o fato de que ninguém sabe como fabricar um simples lápis. Isto é, não há um só indivíduo que saiba como plantar a árvore, minerar a grafite, produzir a borracha e fabricar a tinta.

Processos econômicos complexos fazem com que todas essas coisas sejam feitas e coordenadas por uma enorme variedade de pessoas, apenas para que algo tão simples quanto um lápis seja produzido. Multiplique isso por cem ou por mil quando se quer produzir um carro ou um computador.

Se você não entende algo simples como o processo de fabricação de um lápis, por que você ficaria surpreso de não entender a causa de alguém ganhar muito mais dinheiro do que outros indivíduos?

Além disso, se essa obsessão com disparidades de renda for algo mais do que ranger de dentes, obviamente alguém há de “fazer alguma coisa” para mudar o que você não entende.

Usualmente isso significa que o governo — os políticos — deve criar políticas baseadas na sua ignorância sobre o que está acontecendo. Você pode imaginar algo mais perigoso do que permitir que políticos decidam sobre o quanto de dinheiro cada um de nós pode ganhar?

Claro, tal controle político da renda é freqüentemente defendido somente quando se trata dos “ricos”. Mas, quando o imposto de renda foi imposto, no princípio do século XX, eles o aplicaram apenas aos “ricos” e num percentual bem pequeno sobre a renda.

Uma vez arrombada a porteira por esse tipo de poder político, temos visto que o imposto de renda não só se difundiu muito além dos “ricos”, mas também que ele tem devorado um percentual muito grande da renda, mesmo da classe média.

Além do mais, o imposto de renda gerou uma burocracia intrusiva, criando tanta complexidade normativa que milhões de cidadãos comuns recorrem a contadores para o preenchimento dos formulários — que eles então assinam, confirmando a correção das informações prestadas, sob pena de perjúrio.

Se você soubesse como fazê-lo, você não contrataria alguém para isso, não é mesmo?

Incidentalmente, foi preciso uma emenda constitucional para permitir ao governo federal impor tal imposto de renda. Quem escreveu a Constituição foi suficientemente sábio para entender o quão perigoso era permitir que o governo tirasse o dinheiro das pessoas só porque elas o tinham.

Infelizmente, os “progressistas” foram tolos o suficiente, ou invejosos o suficiente, para particularizar os “ricos” num processo que iria, inevitavelmente, se espalhar por toda a sociedade e se tornar insaciável em suas demandas.

Os “progressistas” de hoje querem expandir o controle político sobre a renda ainda mais. Eles chamam isso de “justiça social”, mas você pode chamá-lo de Rumpelstiltskin que ele ainda significará que os políticos vão decidir o quanto cada um de nós deve ter.

É também digno de nota que as pessoas que supostamente ganham quantidades “obscenas” de dinheiro são usualmente executivos de grandes empresas. Não há a mesma ira contra astros de Hollywood quando eles faturam muitas vezes mais do que os executivos.

Isso é preconceito social e ideológico adicionado à inveja e ignorância. É uma mistura digna de um caldeirão de bruxa, “ideal” para fundamentar uma política nacional.

Toda a conversa arrogante sobre “justiça social” e “igualdade” significa, na verdade, expandir os poderes dos políticos, pois essas belas palavras não têm uma definição concreta. Elas são cheques em branco para criar disparidades em poder a fim de diminuir as disparidades em renda — e são muito mais perigosas.


Por Thomas Sowell.
Tradução de Antônio Emílio Angheth de Araújo.

Publicado originalmente no website Mídia Sem Máscara,
em agosto de 2007.


Nota da editoria:

Imagem da capa: “O cobrador de impostos”, por Marinus van Reymerswaele (1490 – 1546).


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