“Nunca entendi por que é ‘ganância’ você querer conservar o dinheiro que ganhou,
mas não ganância querer tomar o dinheiro dos outros.”
Thomas Sowell
Numa época em que a mídia e mesmo nosso sistema educacional exaltam as emoções ao mesmo tempo em que ignoram a lógica e os fatos, talvez não devamos nos surpreender que tantas pessoas expliquem a Economia pela “cobiça“.
Há, hoje, adultos — incluindo adultos educados — que explicam os salários multimilionários de executivos como sendo devido à “cobiça“.
Pense bem: eu poderia me tornar tão ganancioso a ponto de desejar ter duas vezes a fortuna de Bill Gates — mas essa ganância não aumentaria o meu salário em um centavo sequer.
Se você quer explicar a causa de alguns indivíduos terem salários astronômicos, não há de ser somente por seus próprios desejos — quer sejam “cobiçosos“ ou não — mas pelo que os outros indivíduos estão dispostos a pagá-los.
A questão real então, é: por que as pessoas escolhem pagar aos executivos tão altos salários?
Uma explicação popular é que os salários dos executivos são estabelecidos por conselhos de diretores que estão gastando o dinheiro dos acionistas e que, por isso, não se preocupam com os excessivos salários dos executivos que podem ser, eles próprios, os responsáveis por nomear os diretores para os respectivos conselhos.
Essa é uma bonita imagem e pode ser verdadeira em alguns casos. O que a implode completamente, entretanto, é que os executivos de empresas cujos donos são poucas firmas gigantes de investimentos, ganham muito mais que aqueles em empresas cujos donos são milhares de acionistas.
Em outras palavras, é precisamente onde os indivíduos estão gastando seu próprio dinheiro e são financistas especializados que os executivos têm seus mais altos salários. É precisamente onde os indivíduos entendem mais profundamente a diferença que um executivo pode fazer em termos de lucro corporativo que eles estão dispostos a pagar o que for necessário para conseguir os executivos desejados.
Se executivos extraordinários fossem encontrados em qualquer esquina, ninguém pagaria a eles mais que um salário mínimo.
Muitos observadores que dizem não poder entender como alguém pode valer US$ 100 milhões ao ano não percebem que não é necessário que eles entendam o que quer que seja a esse respeito, pois não é o dinheiro deles que está em jogo.
Todos nós temos milhares de coisas acontecendo ao nosso redor que não entendemos. Usamos computadores o tempo todo mas muitos de nós não seríamos capazes de construir um, mesmo se nossa vida dependesse disso — e aqueles poucos indivíduos que seriam capazes disso, não seriam capazes de criar orquídeas ou treinar cavalos.
Em resumo, todos nós temos um conhecimento inadequado e superficial sobre a especialidade dos outros.
A ideia de que tudo deve “se justificar perante o tribunal da razão“ data do século XVII, pelo menos. Mas isso só faz dela uma candidata ao posto da mais antiga falácia do mundo.
Dado o alto grau de especialização da moderna economia, exigir que tudo “se justifique perante o tribunal da razão“ significa exigir que os indivíduos que sabem o que estão fazendo devem estar sujeitos ao veto dos indivíduos que não têm a menor ideia das decisões que estão criticando.
Significa exigir que a ignorância se sobreponha ao conhecimento.
O ignorante não é somente um grupo separado de pessoas. Tal como disse Will Rogers, todo mundo é ignorante diferindo apenas o objeto da ignorância.
Devem os especialistas em computadores dizer aos neurocirurgiões o que eles devem fazer? Ou os treinadores de cavalos dizer aos dois o que fazer?
Umas das razões da idéia do planejamento central soar tão bem – apesar de ter fracassado tão espetacularmente que mesmo os governos socialistas e comunistas a terem abandonado no final do séc. XX — é que ninguém sabe o suficiente para corrigir ou redirecionar o que o outro está fazendo.
Toda vez que o preço do petróleo dispara há clamores a respeito da “cobiça“ e há a exigência para que políticos investiguem a conspiração das grandes petrolíferas. Já houve mais de uma dúzia de investigações sobre essas companhias ao longo dos anos e nenhuma delas apontou que uma tal conspiração fosse responsável pelos altos preços da gasolina.
Agora que o preço do petróleo caiu muito, isso significa que as companhias petrolíferas tenham perdido sua “cobiça“? Ou poderia ser devido à oferta e demanda — uma explicação de causa e efeito que parece ser mais difícil para algumas pessoas entenderem do que emoções tais como a “cobiça“?
Por Thomas Sowell.
Tradução de Antônio Emílio Angheth de Araújo.
Publicado originalmente no website Mídia Sem Máscara,
em agosto de 2007.
Nota da editoria:
Imagem da capa: “Allegory of Greed” (1670 – 1675), por Johann Ulrich Mayr (1630 – 1704).