“Nada vos daria mais trabalho que uma grande ociosidade, se tivésseis a infelicidade de cair nela.”
Luís XIV (1638 – 1715)
A frase de Shannon Adler vale por uma sirene de alerta. Diz ele: “Frequentemente, aquilo que as pessoas não dizem, ou deixam de lado, conta a verdadeira história”. E eu acrescento: Quantos de nossos males seriam evitados se não comprássemos por dois vinténs de sossego os dissabores de amanhã!
A omissão dos conservadores e liberais favoreceu, nas últimas décadas, a condução do Brasil por maus caminhos, em más companhias. Se é verdade que fizemos nossa autodescoberta em 2018, não é menos verdade que quando acordamos da euforia inerente àquela vitória, a soberania popular jazia entre quatro velas no artigo primeiro da nossa Constituição. Voltamos a ser a galinha dos ovos de ouro no poleiro daqueles que decidem nosso destino e regem nossas liberdades. O mudo consentimento dos omissos permite a migração do poder real da República para mãos impróprias.
Atente, pois. Se alguém lhe jogar por cima etiquetas ofensivas e frases feitas; se disser que “um outro mundo é possível”, que o problema de Cuba é o “terrível bloqueio ianque”, que a ideologia de gênero é uma imposição da vida moderna e uma necessidade das crianças, que as drogas devem ser liberadas, que “interrupção da gravidez” é direito da mulher, que os cristãos devem ficar de boca fechada para que só eles falem porque o Estado é laico, que a pobreza é causada pela riqueza, que a polarização faz mal à política, saiba: aí está alguém animado por mentalidade revolucionária. Alguém que fará qualquer coisa pelo poder e que, no poder, agirá por dentro e por fora da ordem para destruí-la, pondo em curso o projeto revolucionário. Saiba mais: essa pessoa não quer melhorar o mundo, como eu e você queremos. Ela quer destruir a civilização e os valores que buscamos preservar. O Brasil, para elas, é apenas um dos espaços geográficos dessa disputa. Por isso, rejeitam o patriotismo, a bandeira e o Sete de Setembro.
Nossos valores, nossos apreço à liberdade, nossa rejeição à tirania e aos totalitarismos os contraria. Nós, de fato, preferimos a ordem à desordem e à anarquia. Respeitamos a justiça e o devido processo, o Estado de Direito e a Democracia. Rejeitamos revoluções e abusos de autoridade. Sabemos que a prisão dos criminosos liberta os cidadãos. Não investimos contra os bens alheios e exigimos que a propriedade privada seja respeitada. Consideramos que o Estado existe para a pessoa humana e não a pessoa humana para o Estado. Sabemos que a instituição familiar é importante, deve ser preservada e constituir objeto de atenção. Queremos um Estado eficiente nas tarefas que lhe correspondem, não intrometido na vida privada. Entre nós, mesmo os ateus reconhecem o valor da moral judaico-cristã, apreciam os fundamentos da civilização Ocidental e estão longe de considerar o Cristianismo como um mal que deva ser extirpado dos corações e das mentes.
As forças que exercem de modo efetivo o poder nacional, em proporção a cada dia mais evidente, rejeitam esse inteiro pacote, sem acordo possível. Querem a posse integral dos meios para dirigi-los a fins opostos. Abandonam os cidadãos à sanha dos bandidos porque lhes convêm o aumento da criminalidade e a insegurança. Põem em curso as agendas identitárias, não porque se interessem pelas pessoas concretas, mas porque toda trincheira e toda fratura aberta na sociedade serve ao projeto. Defendem a liberação das drogas, não porque considerem isso melhor do que a proibição, mas porque a drogadição abala os valores das comunidades. Hasteiam a bandeira dos Direitos Humanos de cabeça para baixo porque as únicas agressões a direitos humanos que os mobilizam são as que, de algum modo, atingem militantes do seu projeto.
Não tenho a menor condição de compor um cenário nacional para os próximos sessenta dias. Só sei que ele, muito provavelmente, será como os omissos permitirem que seja, antes de porem a culpa em alguém.
Por Percival Puggina.
Publicado no website do autor em 21 de agosto de 2021.
Notas da editoria:
Imagem de capa: “Le Hamac” (1844), do pintor francês Gustave Courbe (1819 – 1877).