O dogma da desigualdade

Obra: "Esportistas" (1931), por Kazimir Severinovich Malevich (1879 - 1935).

A pior forma de desigualdade é tentar fazer duas coisas diferentes iguais.
Aristóteles (356 a. C. – 323 a. C.)



Esta é mesmo a era dos dogmas, quando se trata de diferenças entre grupos. Alguns negam, cegamente, que diferenças de desempenho intergrupos são algo além de “estereótipos”, “percepções”, ou discriminação.

Do outro lado do espectro, o dogma é que diferenças mentais, especialmente — tanto entre indivíduos quanto entre grupos – são inatas, estão nos genes. As reações contra essa visão são tão fortes em alguns lugares que podem se tornar um caso de Justiça Federal aplicar testes de QI em crianças negras.

Essas visões opostas sobrevivem há séculos. No século XVIII, Adam Smith disse que as diferenças entre os portuários e os filósofos eram devidas à educação e sugeriu que havia menos diferença entre os homens que entre os cães.

Do outro lado, um estudioso islâmico do século X observou que os europeus ficavam mais brancos quanto mais ao norte se ia e, também, que “quanto mais ao norte eles viviam, mais estúpidos, grossos e brutos eles eram”. Mas, quais foram os fatos a partir do século X?

Desde a antiguidade, a Europa Mediterrânea — especialmente o extremo leste — foi muito mais avançada que o norte da Europa, em tecnologia, organização, alfabetização e todas as coisas que fazem uma sociedade mais avançada. O fato de que tudo isso mudou nos séculos posteriores não significa que esse estudioso do século X não estava correto, no que ele dizia, quando ele dizia. No mínimo, ele estava lá e nós não.

Infelizmente, os fatos têm tido um papel secundário na maior parte da discussão sobre as diferenças entre grupos, raças, nações e civilizações — tanto entre os que defendem a igualdade inata quanto entre os que defendem a desigualdade inata.

No início do século XX, muitos crentes na desigualdade inata apresentaram o que parecia ser um argumento logicamente sólido de que nosso QI nacional corria perigo de um declínio a longo prazo, uma vez que as pessoas com baixo QI, usualmente, tinham mais filhos que os de alto QI. Os movimentos pela eugenia e pelo controle de natalidade procuraram contrabalançar essa tendência propondo reduzir o número de crianças nascidas de pessoas com baixo QI.

A solidez lógica desse argumento tornou-se sua maior vulnerabilidade quando confrontado com dados reais. Uma ampla pesquisa conduzida pelo Professor James R. Flynn, um americano expatriado em Nova Zelândia, mostrou que, de fato, as nações têm aumentado substancialmente seus desempenhos em testes mentais ao longo dos anos.

Isso nunca deveria ter ocorrido se os testes de QI medissem habilidades inatas, predeterminadas pelos genes. Mesmo assim, o trabalho do Professor Flynn, amplamente reconhecido entre os estudiosos, revelou muitos países em que gerações inteiras respondiam maior número de questões certas nos testes de QI que seus pais e avós.

Pelo fato dos testes de QI terem, por definição, um escore médio de 100, os padrões mudam continuamente. Em outras palavras, se a pessoa média responde corretamente 42 questões num teste de QI, então 42 respostas corretas serão computadas como um QI de 100.

Uma geração mais tarde, se a pessoa média responde corretamente 53 questões no mesmo teste, então 53 respostas corretas serão definidas como um QI de 100. O que isso significa é que não havia nada para indicar como os resultados dos testes de QI estariam se aprimorando, até que o Professor Flynn voltou e consultou os resultados brutos dos escores e descobriu o quanto eles haviam aumentado ao longo de gerações.

Já é tempo de reconhecer os fatos como fatos, quaisquer que sejam nossas filosofias divergentes ou nossas esperanças. A preponderância da evidência é que os europeus do Norte não eram, nem de perto, tão avançados quanto os do Sul no século X. Se existissem então testes de QI, os norte-europeus ficariam, indubitavelmente, num pobre segundo lugar.

Quando testes reais de QI foram desenvolvidos e aplicados no início do século XX nos EUA, os imigrantes do Norte da Europa tiveram melhor desempenho que os do Sul, cujos QI’s eram similares aos dos negros americanos. Não precisamos brigar com os resultados. Precisamos mudar a realidade que os testes medem.


Por Thomas Sowell.
Tradução de Antônio Emílio Angheth de Araújo.

Publicado originalmente no website Mídia Sem Máscara,
em 12 de janeiro de 2006.


Nota da editoria:

Imagem da capa: “Esportistas” (1931), de Kazimir Severinovich Malevich (1879 – 1935).


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