Destino: “O Todo”, via “O Nada”

The Egged

Quanto maior o conhecimento, menor o ego; quanto maior o ego, menor o conhecimento.
Albert Einstein (1879 – 1955)



Todos nós já ouvimos ateus afirmando que, “cristãos não são racionais”; enquanto, do lado oposto, é comum ouvirmos “ateus não compreendem nada”. Porém, frequentemente ambos desconhecem e jamais raciocinam sobre que é o nada. Atente, expus: “ambos não sabem o que é o nada”, e não “ambos não sabem nada”.

Usualmente imaginamos o nada como um espaço vazio, portanto pode ser exemplificado por um vácuo ou uma caixa sem objetos. Todavia, uma área vaga já é algo em si mesma, inclusive mensurável, do contrário não teria sentido alegações como “aquele terreno vazio possui 22 metros quadrados” ou “aquela garrafa vazia suporta até três litros”.

Se admitirmos a Teoria Geral da Relatividade como incontestável, a dificuldade em conceber o nada absoluto será ainda maior. Como sabemos, o tempo é mensurável, mas para esta teoria além disto também é um “ingrediente” necessário para que o espaço e a matéria possam existir. Em outras palavras, a Teoria da Relatividade considera espaço, matéria e tempo como componentes entrelaçados, onde a existência de um, necessariamente depende da existência do outro. Logo, para esta teoria, onde houver tempo não se pode alegar nada existir.

Confuso? Caso afirmativo, há uma frase atribuída a Aristóteles extremamente elucidativa: “nada é aquilo com que as pedras sonham”. Com tal diretriz, avancemos para a reflexão que contém o amago deste escrito.




Se o universo inteiro fosse composto por um único grão de areia ou até mesmo um único átomo, ainda assim, seria totalmente extraordinária a existência de algo ao invés de nada. No entanto, muitos ateus apoiam a crença da inexistência de Deus na autoexistência (eternidade) do universo. E curiosamente quando teístas apresentam argumentos que evidenciam a existência do Criador, eles interrogam: “então quem criou Deus?”, ou seja, para eles o universo pode ser uma causa não causada, mas Deus não.

Ademais, supor que espaço, matéria e tempo sejam causas não causadas (eternos), das quais graças ao tempo (decorrer de bilhões de anos) produziu complexidades como o DNA, culminam constantemente em contradizer a matemática probabilística1, o conceito filosófico do infinito2 e o consenso que traz a existência todo ente material3.

Em suma, se desejamos conhecer a causa de um objeto, necessariamente precisamos atentar para “fora” dele. Por exemplo, podemos estudar um celular 5G para conhecê-lo profundamente, depois repetir a análise com outro aparelho dotado de tecnologia 4G, e assim regressivamente, no entanto, mesmo se atingirmos conhecimento integral desde o primeiro (mais antigo) até último (mais moderno) telefone, não encontraremos a causa dos telefones, pois ela estará fora deles – estará em pessoas. Idem com uma planta, broto, semente e quaisquer outros entes biológicos ou abióticos. Portanto, teorias e filosofias que conjeturam a causa da matéria, do espaço e do tempo como algo imaterial, não espacial e atemporal são oportunas.

Se a natureza de todo componente, não está no próprio componente, é plausível pressupor que a “natureza da natureza” transcenda a ela própria.

Aqui é adequado mencionar que, a Teoria do Big Bang surgiu como consequência da Teoria da Relatividade, portanto, em tais modelos é suposto que matéria, espaço e tempo não existiram desde sempre, o que curiosamente desagradou a Albert Einstein. Sobre isso, na obra Não tenho fé suficiente para ser ateu, Norman Geisler e Frank Turek escreveram:

O ano era 1916, e Albert Einstein não estava gostando do rumo que seus cálculos estavam tomando. Se a sua teoria da relatividade geral estava correta, isso significava que o Universo não é eterno, mas que teve um início. Os cálculos de Einstein realmente estavam revelando um início definido de todo o tempo, de toda a matéria, de todo o espaço. Isso atacava frontalmente sua crença de que o Universo era estático e eterno.

Einstein disse mais tarde que sua descoberta foi “irritante”. Queria que o Universo fosse autoexistente — que não estivesse baseado em nenhuma causa externa, mas o Universo parecia ser um gigantesco efeito. Na verdade, Einstein desaprovou tanto as implicações da teoria da relatividade geral — uma teoria que hoje se prova precisa até a quinta casa decimal — que resolveu introduzir uma constante cosmológica (que alguns chamam, desde então, de “fator disfarce”) em suas equações, visando com isso mostrar que o Universo é estático e evitar a ideia de um início absoluto.

[…]

Em 1922, o matemático russo Alexander Friedmann expusera oficialmente que o fator disfarce de Einstein era um erro algébrico (por incrível que pareça, em sua tentativa de evitar a idéia do início do Universo, o grande Einstein fez uma divisão por zero, o que qualquer criança em idade escolar sabe que é proibido!).4

Este texto não tem a presunção de refutar ou defender a Teoria do Big Bang, aliás como muitas outras hipóteses ela também poderá “cair”. O propósito é alertar que há (e haverá) várias teorias capazes de encaixarem uma vasta quantidade de peças de um quebra-cabeça abissal, sem, no entanto, conseguirem completar a paisagem. Por fim, com tal percepção aguçada, a razão de tais “lusco-fuscos” torna-se claras: residem não na falta de peças, mas na ausência de algo imaterial, atemporal e não espacial para suportar todas.

Em suma, o problema não está em compreender o que é o nada, mas em aceitar o espaço, a matéria e o tempo como tudo.


Por Eric M. Rabello.


Notas:

  1. Cf. A matemática da impossibilidade, em https://culturadefato.com.br/a-matematica-da-impossibilidade. Subir
  2. Cf. O hotel de Hilbert, em https://culturadefato.com.br/o-hotel-de-hilbert. Subir
  3. Cf. O que é mais importante: a viagem ou o destino?, em https://culturadefato.com.br/o-que-e-mais-importante-a-viagem-ou-o-destino. Subir
  4. Não tenho fé suficiente para ser ateu, pág. 52. Norman Geisler e Frank Turek. Editora Vida Nova, 2ª impressão. Subir

Nota da editoria:

Imagem da capa: “Egged”. Para mais informações, clique aqui.


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